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Quero trazer hoje um pouco da
minha vivência em uma UTI Neonatal.
A maternidade é, com certeza,
um momento sublime na vida de uma mulher bem como a espera do bebê para o
casal.
Durante os noves meses que
antecedem o nascimento do bebê os pais têm a chance de se preparar para o novo
papel de suas vidas, o de pais, e preparar o seu ambiente para receber e
abrigar o mais novo integrante da família. Durante estes noves meses são tecidos
sonhos e expectativas para o futuro, bem como se imagina como será o rostinho,
com quem será parecido, como será a chegada em casa, a adaptação, como será seu
futuro, que profissão escolherá e, é...os pensamentos dos papais vão longe
quando se é para pensar num “serzinho” que ainda não viram, mas por quem já
nutrem um imenso amor.
Entretanto, em alguns casos, a
ida para casa não ocorre tão cedo quanto os pais previam. Nestes casos, por
diversos motivos, os recém-nascidos precisam de tratamentos intensivos sem os
quais não poderiam sobreviver. É o caso dos bebês que são internados na UTI
Neonatal.
Neste momento, os pais
experenciam diversos sentimentos e passam pelos famosos estágios listados por
Kubler-Ross quando do enfrentamento de uma perda significativa ou morte:
negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. É difícil para os pais
abdicar dos sonhos e planos formulados para o filho que acaba de nascer, desta
forma, tendem a negar a realidade dos filhos, não reconhecendo sua real
condição. Ao negar procuram se proteger até se sentirem prontos para enfrentar
a situação.
É necessário o acompanhamento
da equipe multidisciplinar para que sentimentos como o medo, a ansiedade e
muitas vezes a culpa por parte dos pais não promovam um afastamento destes para
com o recém-nascido, gerando um prejuízo nos cuidados necessários. O medo
muitas vezes está relacionado ao ambiente de uma UTI como também ao
desconhecimento do quadro clínico do filho. Isso porque em muitos casos o
primeiro contato entre mãe e bebê se dá em sua primeira visita à UTI Neonatal. E
esta realidade pode assustar quando não há o devido preparo e cuidado com os
pais. Por isso é tão necessário o contato com a equipe, tanto médica, quanto da
enfermagem, que explique o que significa cada fio, tubo, sensores e qual a
finalidade de cada um deles. O vínculo entre equipe multidisciplinar e pais é
fundamental.
Tendo o foco na relação
mãe-bebê, estudos mostram a importância de promover o contato precoce entre
eles, garantindo a criação do vínculo afetivo tão necessário e importante ao
desenvolvimento salutar do bebê. Após o nascimento, o bebê pode ser visto,
acariciado e cuidado e é necessário que assim seja, pois por estar internado na
UTI pode-se criar um distanciamento. A qualidade do laço afetivo gerado entre
pais e filho influenciará a qualidade dos laços futuros com outros indivíduos.
Desta forma, procuramos valorizar estes momentos de troca, incentivando os pais
a conversarem com o filho, chamando-o pelo nome.
A psicologia tem aí também um
papel importantíssimo. Oferecer um espaço de escuta e cuidado dos pais auxilia
num melhor enfrentamento da experiência que se vivencia. A impossibilidade do
toque, de olhá-los sempre que quiserem, a iminência da morte, não poder exercer
os cuidados básicos faz com que os pais enfrentem uma série de dificuldades que
até então não haviam considerado. O estresse desenvolvido pelos pais pode ser
amenizado se forem cuidados e acolhidos também pela equipe e, aí incluído, a
equipe de psicologia, evitando assim o distanciamento. Oferecendo um espaço
para se falar a respeito ajudará a terem força para seguir em frente e
reconhecer até mesmo os ganhos que tiveram durante o período.
Mas, felizmente, na maioria dos
casos o momento de levar o bebê para casa chega e a vivência da rotina
hospitalar fica para trás como uma fase vivida como deveria e que com certeza
fortaleceu ainda mais a relação da nova família.
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