segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Os ganhos da UTI Neonatal

Fonte: Google

Quero trazer hoje um pouco da minha vivência em uma UTI Neonatal.
A maternidade é, com certeza, um momento sublime na vida de uma mulher bem como a espera do bebê para o casal.
Durante os noves meses que antecedem o nascimento do bebê os pais têm a chance de se preparar para o novo papel de suas vidas, o de pais, e preparar o seu ambiente para receber e abrigar o mais novo integrante da família. Durante estes noves meses são tecidos sonhos e expectativas para o futuro, bem como se imagina como será o rostinho, com quem será parecido, como será a chegada em casa, a adaptação, como será seu futuro, que profissão escolherá e, é...os pensamentos dos papais vão longe quando se é para pensar num “serzinho” que ainda não viram, mas por quem já nutrem um imenso amor.
Entretanto, em alguns casos, a ida para casa não ocorre tão cedo quanto os pais previam. Nestes casos, por diversos motivos, os recém-nascidos precisam de tratamentos intensivos sem os quais não poderiam sobreviver. É o caso dos bebês que são internados na UTI Neonatal.
Neste momento, os pais experenciam diversos sentimentos e passam pelos famosos estágios listados por Kubler-Ross quando do enfrentamento de uma perda significativa ou morte: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. É difícil para os pais abdicar dos sonhos e planos formulados para o filho que acaba de nascer, desta forma, tendem a negar a realidade dos filhos, não reconhecendo sua real condição. Ao negar procuram se proteger até se sentirem prontos para enfrentar a situação.
É necessário o acompanhamento da equipe multidisciplinar para que sentimentos como o medo, a ansiedade e muitas vezes a culpa por parte dos pais não promovam um afastamento destes para com o recém-nascido, gerando um prejuízo nos cuidados necessários. O medo muitas vezes está relacionado ao ambiente de uma UTI como também ao desconhecimento do quadro clínico do filho. Isso porque em muitos casos o primeiro contato entre mãe e bebê se dá em sua primeira visita à UTI Neonatal. E esta realidade pode assustar quando não há o devido preparo e cuidado com os pais. Por isso é tão necessário o contato com a equipe, tanto médica, quanto da enfermagem, que explique o que significa cada fio, tubo, sensores e qual a finalidade de cada um deles. O vínculo entre equipe multidisciplinar e pais é fundamental.
Tendo o foco na relação mãe-bebê, estudos mostram a importância de promover o contato precoce entre eles, garantindo a criação do vínculo afetivo tão necessário e importante ao desenvolvimento salutar do bebê. Após o nascimento, o bebê pode ser visto, acariciado e cuidado e é necessário que assim seja, pois por estar internado na UTI pode-se criar um distanciamento. A qualidade do laço afetivo gerado entre pais e filho influenciará a qualidade dos laços futuros com outros indivíduos. Desta forma, procuramos valorizar estes momentos de troca, incentivando os pais a conversarem com o filho, chamando-o pelo nome.
A psicologia tem aí também um papel importantíssimo. Oferecer um espaço de escuta e cuidado dos pais auxilia num melhor enfrentamento da experiência que se vivencia. A impossibilidade do toque, de olhá-los sempre que quiserem, a iminência da morte, não poder exercer os cuidados básicos faz com que os pais enfrentem uma série de dificuldades que até então não haviam considerado. O estresse desenvolvido pelos pais pode ser amenizado se forem cuidados e acolhidos também pela equipe e, aí incluído, a equipe de psicologia, evitando assim o distanciamento. Oferecendo um espaço para se falar a respeito ajudará a terem força para seguir em frente e reconhecer até mesmo os ganhos que tiveram durante o período.
Mas, felizmente, na maioria dos casos o momento de levar o bebê para casa chega e a vivência da rotina hospitalar fica para trás como uma fase vivida como deveria e que com certeza fortaleceu ainda mais a relação da nova família.

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