terça-feira, 21 de agosto de 2012

A gestação de um pai – a realidade dos homens em uma UTI Neonatal

Fonte: Google

Por muito tempo a tradição e convenção social atribuíam papéis bem delimitados aos homens e mulheres. A configuração familiar se estabelecia da seguinte forma: ao pai cabia prover materialmente a família mantendo-se, desta forma, distante dos filhos. À mulher cabia o cuidado com os filhos e da casa. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho estes papéis começaram a mudar.
Por meio desta mudança o casal precisou se reorganizar. Mudaram-se os comportamentos e tarefas, tanto masculinas quanto femininas, foi necessário ampliar os campos de atuação, dividindo e compartilhando tarefas. Os reflexos destas mudanças são perceptíveis em diversos aspectos da vida, mas tendo aqui o foco no universo da gestação de um filho, estas mudanças já começam a aparecer desde as primeiras consultas do pré-natal. Hoje muitos dos pais acompanham suas mulheres nas consultas e este fato auxilia no desenvolvimento da paternidade.
Tendo havido uma mudança significativa nos papéis, o pai além de ser muitas vezes o provedor, também se mostra bastante presente no dia-a-dia dos filhos, por meio da atuação em sua educação, manifestação da preocupação e interesse, demonstrações de afeto, entre outras.
Entretanto, quando da internação do recém-nascido em uma UTI Neonatal, os sentimentos experenciados pela mãe como, por exemplo, o medo, também são vivenciados pelos pais. Ocorre um misto de emoções, a felicidade pelo nascimento do filho juntamente com a preocupação, o estranhamento da situação que muitas vezes, até então, não se havia considerado.
O internamento do filho em uma UTI traz consigo a iminência da morte e com isso deixa desassossegado o coração dos pais. As preocupações são várias e precisam ao longo do tempo e a medida do possível serem esclarecidas.
Muitas vezes os recém-nascidos passam muitos dias ou até mesmo meses no ambiente hospitalar, mas para os pais a volta à rotina acontece após poucos dias do nascimento. São atribuídos aos pais: cuidados com a mulher, por estar em recuperação pós-parto, continuar provendo a família, cumprir seus compromissos profissionais, cuidar afetivamente do filho, manter contato com a equipe, cuidar dos demais filhos que ficaram em casa, quando já se tem outros filhos, entre outras funções.
Alguns dos momentos mais difíceis para os pais e mães são: a primeira visita ao recém-nascido na UTI e a volta para casa. Quando da primeira visita, o pai costuma sentir uma necessidade de ser forte para confortar sua mulher e demonstrar força. Entretanto, muitas vezes, os pais também estão fragilizados, pois vivenciam a mesma dor que a mãe experencia. Outro momento delicado acontece quando da alta hospitalar da mulher. Toma-se consciência neste momento da realidade da prematuridade do bebê, voltar para casa de braços vazios.
Mesmo que temporária, cria-se uma nova rotina e com ela novas emoções, novos medos e novos desafios. Há a necessidade de alguém que auxilie o pai a enfrentar da melhor maneira e com os recursos que possui esta nova fase. Alguém que escute suas dores, suas dúvidas e acolha também suas lágrimas. É necessário que o estranhamento inicial de toda a realidade que vivenciam possa ser trabalhado para serem assimilados e assim se transformarem em força. A psicologia trabalhará neste sentido, tendo atenção especial ao relacionamento conjugal que também poderá ser afetado caso as dificuldades e sentimentos não sejam trabalhados.
Na maioria dos casos os pais encontram uma maneira sadia de enfrentar a situação e transformar em força e crescimento esta fase que vivenciam, aproximando-se e criando uma relação ainda mais saudável com sua mulher.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Os ganhos da UTI Neonatal

Fonte: Google

Quero trazer hoje um pouco da minha vivência em uma UTI Neonatal.
A maternidade é, com certeza, um momento sublime na vida de uma mulher bem como a espera do bebê para o casal.
Durante os noves meses que antecedem o nascimento do bebê os pais têm a chance de se preparar para o novo papel de suas vidas, o de pais, e preparar o seu ambiente para receber e abrigar o mais novo integrante da família. Durante estes noves meses são tecidos sonhos e expectativas para o futuro, bem como se imagina como será o rostinho, com quem será parecido, como será a chegada em casa, a adaptação, como será seu futuro, que profissão escolherá e, é...os pensamentos dos papais vão longe quando se é para pensar num “serzinho” que ainda não viram, mas por quem já nutrem um imenso amor.
Entretanto, em alguns casos, a ida para casa não ocorre tão cedo quanto os pais previam. Nestes casos, por diversos motivos, os recém-nascidos precisam de tratamentos intensivos sem os quais não poderiam sobreviver. É o caso dos bebês que são internados na UTI Neonatal.
Neste momento, os pais experenciam diversos sentimentos e passam pelos famosos estágios listados por Kubler-Ross quando do enfrentamento de uma perda significativa ou morte: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. É difícil para os pais abdicar dos sonhos e planos formulados para o filho que acaba de nascer, desta forma, tendem a negar a realidade dos filhos, não reconhecendo sua real condição. Ao negar procuram se proteger até se sentirem prontos para enfrentar a situação.
É necessário o acompanhamento da equipe multidisciplinar para que sentimentos como o medo, a ansiedade e muitas vezes a culpa por parte dos pais não promovam um afastamento destes para com o recém-nascido, gerando um prejuízo nos cuidados necessários. O medo muitas vezes está relacionado ao ambiente de uma UTI como também ao desconhecimento do quadro clínico do filho. Isso porque em muitos casos o primeiro contato entre mãe e bebê se dá em sua primeira visita à UTI Neonatal. E esta realidade pode assustar quando não há o devido preparo e cuidado com os pais. Por isso é tão necessário o contato com a equipe, tanto médica, quanto da enfermagem, que explique o que significa cada fio, tubo, sensores e qual a finalidade de cada um deles. O vínculo entre equipe multidisciplinar e pais é fundamental.
Tendo o foco na relação mãe-bebê, estudos mostram a importância de promover o contato precoce entre eles, garantindo a criação do vínculo afetivo tão necessário e importante ao desenvolvimento salutar do bebê. Após o nascimento, o bebê pode ser visto, acariciado e cuidado e é necessário que assim seja, pois por estar internado na UTI pode-se criar um distanciamento. A qualidade do laço afetivo gerado entre pais e filho influenciará a qualidade dos laços futuros com outros indivíduos. Desta forma, procuramos valorizar estes momentos de troca, incentivando os pais a conversarem com o filho, chamando-o pelo nome.
A psicologia tem aí também um papel importantíssimo. Oferecer um espaço de escuta e cuidado dos pais auxilia num melhor enfrentamento da experiência que se vivencia. A impossibilidade do toque, de olhá-los sempre que quiserem, a iminência da morte, não poder exercer os cuidados básicos faz com que os pais enfrentem uma série de dificuldades que até então não haviam considerado. O estresse desenvolvido pelos pais pode ser amenizado se forem cuidados e acolhidos também pela equipe e, aí incluído, a equipe de psicologia, evitando assim o distanciamento. Oferecendo um espaço para se falar a respeito ajudará a terem força para seguir em frente e reconhecer até mesmo os ganhos que tiveram durante o período.
Mas, felizmente, na maioria dos casos o momento de levar o bebê para casa chega e a vivência da rotina hospitalar fica para trás como uma fase vivida como deveria e que com certeza fortaleceu ainda mais a relação da nova família.