segunda-feira, 22 de julho de 2013

Abrindo morada para o perdão!

Fonte: Mariana Casotti
Cátia colecionava mágoas. Durante os seus 40 anos de vida havia acumulado ressentimentos que mais pareciam uma mochila pesada trazida em suas costas já cansadas. Sem perceber, a mágoa prejudicava também os seus relacionamentos atuais e não só com aqueles com quem havia se desentendido no passado.
Tinha os desafetos anotados na caderneta de sua mente e acreditava ser possível esquecê-los e deixá-los para trás de forma simples, como se riscasse na caderneta de papel as contas já pagas. Entretanto, em diversos acontecimentos de sua vida ela era convocada a se lembrar destes ressentimentos; o que lhe causava dor. O que acontecia com a Cátia? Ela confundia esquecer com perdoar e por isso o coração e a mente continuavam atribulados.
Mas será que temos assim tão claro em nossa mente no que consiste o perdão?
Se buscarmos na origem da palavra, perdão significa remissão de pena, ofensa e dívida. Significa o cancelamento da ofensa recebida do outro. Dessa forma, perdoar alguém não é o mesmo que negação nem arrogância. Explico:
(1)                  Na negação, assumimos a postura de fingir que está tudo bem. Negamos a realidade do que se passou e reprimimos a mágoa e a raiva que sentimos.
(2)                  Tão ineficiente quanto, é a arrogância que nos faz “perdoar” por considerarmos o outro um tolo. Nela assumimos uma postura de superioridade que em nada tem a ver com o perdão.
Como é possível perceber nenhuma destas duas posturas permite a reconciliação. Isto porque não abrem espaço para analisar a situação, observá-la por outro ponto de vista.
Se observarmos num panorama maior, será possível perceber o quanto as pessoas têm se tornado inflexíveis e críticas com os que os cercam. Ao mesmo tempo em que se busca uma liberdade sem limites nos relacionamentos há uma grande insegurança. Isso porque, o vínculo entre as pessoas pode ser desfeito a qualquer momento e por qualquer razão, gerando um desconforto e uma necessidade de se defender. A dificuldade do perdão se faz entender também nesta realidade.
Cada vez mais as pessoas evitam aprofundar os seus vínculos com receio de vir a sofrer. A infelicidade é tida como algo a ser combatida a todo custo, sem considerarmos que ela é parte do ser humano. E assim sendo, precisa ser ouvida e falada. Na sociedade que preconiza o combate a infelicidade, se entende o não aprofundamento dos vínculos como segurança. Sendo assim, torna-se cada vez mais difícil enxergar e compreender o outro em sua inteireza; como ser humano com suas qualidades, mas também passivo de falhas. Isso porque não quero conhecê-lo também em suas limitações, mas somente naquilo que me faz bem. Qual a consequência? Pessoas despreparadas para lidar com as dificuldades e frustrações e consequentemente “incapazes” de perdoar.
Diante do exposto, fica a pergunta: como é possível ir na contramão do senso comum e perdoar?
Creio que não exista um passo a passo a ser ensinado, mas trago a seguir algumas reflexões que poderão auxiliá-los na busca pelo perdão ou por perdoar.
A primeira reflexão que faço é sobre uma condição básica; a de estar disposto a perdoar. Perdoar exige mudar sua percepção, sua forma de agir e pensar, e por isso deve ser uma escolha sua. Exige de cada um sair de sua comodidade e dor para caminhar até o outro e não esperar do outro uma atitude.
Outra condição fundamental é a de que, para ser possível perdoar, é preciso conhecer e compreender o outro. Para isto, é necessário superar os medos com determinação, vontade e coragem. Mergulhar fundo no perdão buscando compreender as motivações do outro, colocando-se no lugar deste. Esta atitude o fará compreendê-lo melhor em sua inteireza – com suas qualidades e limites – e lhe permitirá respeitá-lo assim como ele é. Podendo não mais considerá-lo uma decepção ou desilusão (que indicam a não compreensão do outro como passivo de falhas). Permitirá que você aja com empatia, que de forma simples, é a capacidade de perceber o que se passa com o outro em seu íntimo, perceber os sentimentos e situações como a outra pessoa o vivencia.
Dessa forma, perdoar passa pelo estágio de enfrentar a dureza da realidade, enfrentar a situação ocorrida, os sentimentos decorrentes e como tudo isso o afeta.  É preciso confrontar esta realidade para depois ser possível reconciliar-se com ela. Compreender o que se passou para ser possível desatar o nó e não “simplesmente” fingir que o nó do desentendimento não existe. E para isso é importante desapegar da culpa – assumida ou projetada no outro – e abrir espaço para a esperança. Enquanto nos mantemos com o dedo apontado e procurando por culpados pela dor que sentimos, não seremos capazes de enxergar verdadeiramente o outro e nos colocarmos numa posição onde o perdão é possível. Recuperar a reciprocidade, o querer perdoar com a vontade de ser perdoado. Olhar de forma diferente.

Neste processo algumas perguntas podem ser de grande ajuda:
(1)  Você tem buscado o perdão/perdoar ou tem sido a pessoa que insiste no conflito? Buscar a reconciliação é premissa básica para o perdão. Se você tem essa consciência, deve partir de você essa busca. Procurar deixar claro que da sua parte não há mais disposição para o conflito e manter-se no caminho para a reconciliação até que se sinta disposto a um contato mais íntimo.
(2)  Consigo compreender e aceitar as incoerências do outro?
Aceito a minha família, amigos e colegas também em suas fragilidades, imaturidades, falta de preparo para assumir responsabilidades, por exemplo? Quando compreendemos e aceitamos, saímos da posição de juiz, de superioridade e conseguimos nos colocar perante o outro de igual para igual, como quem também tem limites. Aliás, será que somos tão diferentes assim, nós e eles? Quantas vezes também EU já fui perdoada e compreendida? Como me senti quando isso aconteceu?


Lembra da Cátia? Pois bem, ela já cansada de carregar uma mochila tão pesada há anos, procura a terapia após receber alguns conselhos de amigos. Após refletir sobre sua vida compreende que, para perdoar, é necessária a vontade de renovar as energias. Decidiu que a partir de hoje não quer mais a mágoa, o ressentimento e a raiva, mas sim a oportunidade de amar, respeitar e ser generosa.
A cada momento em que se lembra daquilo que lhe causava dor, ao invés de pensar e desejar o mal, foi orientada a enviar coisas boas para aquela pessoa que considerava ter lhe feito mal. Repete em cada um desses momentos: “eu te perdoo por ter me abandonado”, “eu te perdoo por ter me feito sofrer”, “eu te perdoo por ter me feito x”, enfim, “eu te perdoo”.
Vale reforçar: para perdoar é necessária a vontade de renovar as energias. Não gaste mais suas energias com sentimentos que te mantém escravo das lembranças do passado; abra espaço para um novo horizonte.
Como em todo processo de mudança, pode haver recaídas e a Cátia relata sentir dificuldades em alguns momentos. Mas o importante é manter-se vigilante para recomeçar.

Para finalizar, peço que parem por alguns minutos para pensar sobre uma frase da autora Balona (que trabalha a autocura) que acho bastante significativa:

“Se o afeto une, o desafeto ata”


E então, o que você escolhe?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Na fotografia da vida: tripé ou liberdade?

Fonte: google

Jorge é um fotógrafo e enquanto se prepara para registrar o amor de uma família, a união de um novo casal ou o momento da gestação de um filho ele pensa e decide qual a melhor opção para aquela situação. Existe dentre várias possibilidades a opção de usar um tripé.
Mas para que serve o tripé? Se você perguntar ao nosso fotógrafo, ele te dirá que uma de suas funções é garantir a estabilidade para trabalhar, evitando vibrações, movimentos involuntários e outros pontos importantes para uma boa qualidade da foto. Entretanto, nem sempre o uso do tripé é necessário e por muitas vezes a liberdade de se locomover rapidamente com a câmera e captar a espontaneidade dos clientes é essencial.
Em sua vida pessoal Jorge também tem suas dúvidas no que diz respeito a quando manter a “comodidade” de sua vida, garantindo assim a estabilidade que o tranquiliza e quando é necessário fazer as mudanças que lhe trarão melhorias.
E é sobre este assunto que eu quero falar com vocês hoje: estabilidade x mudança.
Você já se sentiu paralisado em algum momento? Qual situação te deixou assim?
Já sentiu como se algo te incomodasse ou até mesmo te tirasse o sono?
O que você costuma fazer com estes pensamentos e sensações?
É certo que nós normalmente não paramos para pensar sobre estas questões. Muitas vezes deixamos estes questionamentos e sensações de lado para conseguirmos seguir adiante e viver nossa rotina já programada, cumprir nossos compromissos e ser aquilo que nos comprometemos a ser um dia. Isso porque a sensação de que algo não está certo nos gera desconforto, nos traz a sensação de desorganização.
Inúmeros são os exemplos para aquilo que nos incomoda: (1) o trabalho que não nos realiza, (2) a rotina que não nos agrada, (3) o namoro ou casamento que não vai bem, entre outros. Ao sentir que não cabemos mais na realidade que temos, surge a necessidade de nos reinventar. Mas como? Onde iremos nos encaixar se mudarmos? Se formos diferentes? 
É...nosso mundo terá que mudar e nós precisaremos nos deixar perder,  para ser possível nos encontrar.
Perder-se! Quão difícil é sair de nossa zona de conforto, não é?
Se pensarmos no nosso cotidiano já nos propusemos algumas vezes a mudar; mudar de vida, de emprego, de curso, enfim, mudar. Mas ao tentar abandonar antigos comportamentos e atitudes nos sentimos desconfortáveis e retomamos a forma original.
Estes comportamentos e atitudes que fazem parte da nossa rotina faz com que nos reconheçamos; mesmo que sejam disfuncionais. Ou até, que não seja o mais saudável para nós.
Manter aquilo que nos é familiar permite que nos reconheçamos, ainda que exija um grande esforço para viver. Pergunto novamente: O que te prende aquilo que você é hoje, mas que não corresponde a tua essência? O que te faz sofrer, mas que de alguma forma te permite viver?
Manter-nos naquilo que nos é conhecido ou rotineiro nos permite saber do futuro, ou pelo menos tentar programá-lo. Por isso é tão difícil abandonar estas “supostas certezas”em busca daquilo que nos fará sentir mais realizados. A dúvida é: se você se permite perder, que futuro terá?
Se você se entregar à aventura de procurar o que te faz sentido como saberá o que irá encontrar?
Mas por vezes precisamos perder aquilo que de que não mais precisamos. Sempre há tempo de recomeçar. Por vezes o medo nos paralisa impedindo que busquemos aquilo que fará mais sentido em nossa vida, quer seja um trabalho, um alguém, um gesto para com o outro, etc.
Nesta busca pelo que faz mais sentido, a psicoterapia pode ser uma grande aliada. A terapia nos permite o autoconhecimento; a compreensão do que buscamos alcançar, o que tem nos impedido de buscá-lo e até mesmo como trilhar este caminho. Viver plenamente inclui a realização do sentido de nossas vidas.
Cada um possui um sentido único/particular e é de nossa escolha e responsabilidade buscar compreendê-lo e colocá-lo em prática. É preciso coragem, mas o maior presente que se pode receber em troca é o caminho e as possibilidades que se abrem diante de cada um que se coloca verdadeiramente neste processo.
Em nossa vida nos deparamos em muitos momentos com a dúvida de Jorge; usar o tripé ou a liberdade para criar. Parafraseando Clarice Lispector deixo-te uma pergunta: Qual a terceira perna que faz de ti um tripé estável, mas que te impede de caminhar?
Ou ainda: O que você fará? Permanecerá com a terceira perna ou se aventurará na busca por aquilo que te faz sentido?