quinta-feira, 16 de junho de 2011

A conjugalidade na chegada do primeiro filho

Durante o período em que atuei em um hospital de Curitiba, uma questão me chamou a atenção e me instigou a pesquisar um pouco mais sobre o assunto. Trata-se das dificuldades enfrentadas por casais quando da gravidez do primeiro filho. Para falar sobre este tema é importante trabalhar algumas questões.
De acordo com a perspectiva sistêmica, o sistema familiar passa por diversas etapas durante o seu ciclo de vida. Carter e McGoldrick (1995) consideram este ciclo de vida como sendo dividido em seis estágios: (1) jovens solteiros; (2) novo casal; (3) famílias com filhos pequenos; (4) famílias com filhos adolescentes; (5) lançando os filhos e seguindo em frente – ninho vazio e (6) famílias no estágio tardio de vida.
Entretanto, a transição para a parentalidade é considerada uma das maiores mudanças pela qual o sistema familiar pode passar. Neste momento os cônjuges deixam de ser apenas um casal para se tornar pais, progenitores de uma nova família.
Ainda sobre esta temática, o autor Jongenelen (1998) afirma que “O tornar-se pai/mãe é uma tarefa desenvolvimental de grande importância, quer para o jovem adulto quer para o adulto visto que, a maternidade/paternidade implica a passagem de unidade de casal para a unidade de família”.
As pesquisas sobre a temática da conjugalidade na transição para a parentalidade apontam que há um declínio na felicidade e na satisfação conjugal neste período. Isso porque, muitas vezes, juntamente com a parentalidade há o fim do romance entre o casal.
O tornar-se pai e mãe demanda do casal a redefinição de papéis e a conseqüente redefinição da relação conjugal. Pois, neste novo momento do ciclo familiar, serão exigidos novas negociações e divisão de tarefas que envolvem, por exemplo, a educação do filho, tarefas financeiras e domésticas, entre outras. Há a necessidade de que o sistema familiar se reorganize para a chegada do bebê.
A pesquisa de Menezes (2001) aponta que:

“(...) anteriormente ao surgimento da parentalidade, a família (na qual se prepara o nascimento do primeiro filho) é composta apenas pelo casal, e as interacções dentro do sistema nuclear são estabelecidas apenas entre esses dois indivíduos. Quando se dá a entrada de um novo elemento, existem várias transformações que acontecem e que levam ao aparecimento de novas responsabilidades e tarefas para os cônjuges”. 

O nascimento do filho e as novas tarefas a serem realizadas muitas vezes passam a ser desempenhadas em sua maioria pelas mães, que se descobrem, então, sobrecarregadas. Em muitos casos, os pais se preocupam em prover o sustento financeiro da família, sobrecarregando-se no trabalho, mantendo-se ausente da relação familiar e conjugal; e à mãe cabe o cuidado do bebê. Esta configuração acaba por gerar conflitos entre o casal.
Entretanto, o que é importante se ter em mente é que não é a parentalidade em si que provoca o declínio da relação conjugal e os conseqüentes conflitos. Mas sim, a forma como cada casal se relaciona. O que irá determinar a forma como este casal fará a transição para a parentalidade é o padrão de relacionamento que eles estabeleceram ao longo de sua história. “(...) a maioria dos casais com altos níveis de competência conjugal pré-natal mantém sua estrutura de alta competência conjugal na transição para a parentalidade” (Menezes e Lopes, 2007).
Observa-se então que a maneira como o casal estabelece sua relação, sua comunicação, seu apoio, etc. enquanto casal influenciará a maneira como irão lidar e o quanto irão investir na sua relação, comunicação e apoio durante e depois da gravidez. Quanto maior o distanciamento afetivo do casal, maior o impacto da transição para a parentalidade.


Nesta fase, anterior ao nascimento do bebê, o importante então é refletir sobre como está a relação conjugal neste momento; quais as dificuldades enfrentadas e que pontos positivos poderiam ajudar a superar as dificuldades.
É preciso também estar alerta para algumas tentações nas quais muitos casais não fortalecidos em sua relação poderiam cair. Por exemplo: conformação do casal com situações de conflitos, a falta de investimento na relação, distanciamento do pai e sobrecarga da mãe; pois quanto maior o distanciamento afetivo do casal, maior o impacto da transição para a parentalidade.
Além disso, é importante pensar ações concretas para ajudar no fortalecimento da conjugalidade. Por exemplo: (1) Apoio emocional dos cônjuges; (2) Envolvimento paterno com os cuidados do bebê; (3) Divisão do trabalho doméstico; (4) Interação comunicacional; (5) Colocar a relação conjugal em um lugar importante/de destaque em suas vidas, o que ajuda a manter a conjugalidade mesmo depois da parentalidade; (6) Oportunizar momentos a sós para conversar e namorar – contando com a ajuda de sua rede de apoio social e (7) Favorecer a inserção do pai, facilitar sua inclusão, ser aberta a sua participação no cuidado do bebê.
O objetivo é que saibam que se investem na relação, em alguns momentos o tempo disponível para ela pode até diminuir, mas tende-se a aumentar o companheirismo e a união.

A intenção não deve ser só, como diz Menezes e Lopes (2007), ligar os adultos, como pais, a criança, mas intensificar o relacionamento íntimo do casal.

3 comentários:

  1. Muito legal Mariana... me ajuda bastante a refletir sobre esta fase "pré-parentalidade"... Abração

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  2. Parabéns, Mari...
    Uma iniciativa corajosa e importante para incitar o debate...
    Toda iniciativa que nos obriga a reflexão, de alguma forma, nos impulsiona...

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  3. Fico feliz que tenham gostado.
    Quando quiserem, deem uma passada por aqui!

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